Luiz Antonio Teixeira Jr.

O ingresso na faculdade de medicina é dos vestibulares mais difíceis que existem. Quem consegue ser aprovado para uma universidade pública, passa por um funil que chega a ter 115,2 candidatos por vaga, como no caso da Medicina na USP.

Quem não tem a sorte de estudar numa pública e opta pelas universidades privadas tem de arcar com mensalidades que muitas vezes chegam a dois dígitos. Tudo é caro na formação do médico. Dos livros ao jaleco; o tempo dedicado a intermináveis horas de estudo, a necessidade de se atualizar num mercado que não para de avançar; a participação em seminários, congressos: trata-se de um investimento enorme e uma dedicação que só aqueles que realmente têm amor pela medicina são capazes de suportar. Por outro lado, não há profissão mais gratificante, que tem o poder de curar, de salvar uma vida, de diminuir um sofrimento. Mas, ao contrário do que diz a propaganda, isso tem um preço.

No entanto, a cada dia que passa, o retorno desse investimento fica mais distante. A desatualização dos honorários médicos, tanto na saúde privada quanto pública, é uma realidade incontestável. A tabela SUS não é modernizada há décadas. Não apenas os valores estão defasados: procedimentos que nem existem mais, tão velhos que ficaram, continuam listados, enquanto outros que surgiram não estão relacionados. A residência médica, fundamental na formação prática de especialistas, está sendo esvaziada, a ponto de 30% das vagas estarem hoje ociosas.

A bolsa de um residente, por exemplo, é quatro vezes menor do que ganha um médico sem CRM, formado no exterior, contratado pelo programa “Mais Médicos”.  Por isso, apresentei dois projetos voltados ao fortalecimento da Residência. O primeiro iguala o valor da bolsa dos residentes aos salários pagos pelo Mais Médicos. O segundo propõe a transferência da Comissão Nacional de Residência Médica do Ministério da Educação para o Ministério da Saúde.

Outras ameaças à carreira são a teleconsulta, que vai contra toda a boa prática médica e visa a precarizar a relação médico-paciente; a proliferação de cursos de medicina sem qualificação pelo país e a expansão do número de médicos formados em países vizinhos que, sem o preparo necessário à função, vêm atuar em nosso país. Para eles, defendo um rígido exame de Revalida a cada seis meses, para que tenhamos médicos, ainda que formados no exterior, mas com a devida qualificação para atuar aqui.

Eu, como médico que sou, estou deputado. E, como tal, por conhecer profundamente o setor – onde trabalho como gestor privado há anos e onde tive a oportunidade de ser secretário municipal e de estado de Saúde – tenho dedicado parte do meu mandato para tentar ajudar a corrigir as enormes distorções que afetam hoje o exercício da medicina no Brasil. E elas são muitas.

Após uma discussão dura na Comissão Mista que discute a MP que trata do programa “Médicos pelo Brasil”, consegui aprovar uma emenda no relatório que será votado em plenário para que a gratificação dos médicos federais concursados seja equiparada com as das demais carreiras médicas de nível superior do Ministério da Saúde.

Não faço isso por espírito de corpo, mas por saber que a valorização do médico impacta positivamente no serviço que é prestado à população, na ponta. Porque, da mesma forma que a Saúde no Brasil tem que deixar de ser tratada pelo foco da doença – mas pelo da prevenção – os médicos devem ser vistos como agentes fundamentais na melhoria das condições de vida da população do nosso País.

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