DERMATITE ATÓPICA EM ADOLESCENTES ESTÁ ASSOCIADA A DEPRESSÃO E BULLYING

Jovens perdem, em média, 26 dias de aula por ano devido às crises e sentem a autoconfiança abalada

Viver com dermatite atópica pode levar a um sofrimento que vai além do que se vê na pele. Em adolescentes, cuja estrutura psicológica ainda está em formação, estudos indicam que a doença está associada a quadros de depressão, bullying e ideação suicida, além de autoconfiança comprometida. Por isso, seguir com o tratamento adequado contínuo é essencial para se ter qualidade de

O que é dermatite atópica

De fato, a dermatite atópica (DA) não é contagiosa. Trata-se de uma doença crônica e genética caracterizada por pele seca, lesões que coçam muito e crostas. Nesta doença, o sistema imune reage de forma exagerada a qualquer fator externo alergênico, propiciando a coceira intensa e o aparecimento das lesões.

Além disso, há um defeito genético na estrutura da pele. As células que deveriam estar bem juntas, formando uma barreira protetora, estão mais espalhadas na DA, com uma camada frágil que permite a entrada de fatores prejudiciais.

“Uma pessoa pode sensibilizar por inúmeros fatores: ácaros, pele de animal, fungo, pólen, alimentos. Essa pele inflamada fica muito reativa e sensível a fatores irritantes e até roupa ou suor pode dar coceira .

Outros gatilhos para a crise são infecções e estresse.

A dermatite atópica é a mais comum das doenças crônicas da infância, sendo mais frequente nessa fase, mas pode aparecer em qualquer momento da vida. “Quanto mais grave, mais chance de persistir ao longo da vida.” O diagnóstico é clínico e se difere de outras doenças de pele pela apresentação típica.

Enquanto na dermatite atópica as lesões aparecem nas dobras internas de braços e pernas e há muito coceira, na psoríase, por exemplo, ocorrem mais placas nas dobras externas, como cotovelos, que não coçam muito. As formas graves são mais comuns em adolescentes e adultos, cujas lesões se generalizam pelo corpo, enquanto as leves predominam na infância.

Rinite, asma e alergia a alimentos ou fatores ambientais estão associados à DA

O fato de essas enfermidades fazerem parte do mesmo grupo genético explica a relação entre elas. pessoas com dermatite atópica têm 50% de chance de evoluir com asma, mas o risco só existe até a adolescência.

Impactos socioemocionais da dermatite atópica

A ausência escolar é um problema significativo na vida de adolescentes que convivem com dermatite atópica. Um estudo identificou que adolescentes entre 14 e 17 anos de idade têm, em média, 7,5 crises por ano e faltam à aula 3,5 dias em cada crise. No total, são pouco mais de 26 dias de aula perdidos no período.

Questões emocionais relacionadas à doença são ainda mais preocupantes. O mesmo estudo mostrou que quadros de depressão estão presentes em 52% desses jovens e 39% relatam ter sido vítimas de bullying por causa da DA em algum momento da vida. Durante as crises, metade deles se preocupa com serem vistos em público e 36% dizem que têm a autoconfiança abalada.

“É a fase mais difícil, fase de aceitação. Os casos moderados e graves mexem com a autoimagem, tem interferência no sono muito grande, e isso gera instabilidade emocional. O impacto é maior do que na fase adulta, porque a estrutura psicológica [do jovem] ainda não está bem formada e a autoestima é péssima”.

A questão emocional pode se tornar ainda mais complexa. Outro estudo feito com 3.775 pessoas entre 18 e 19 anos concluiu que 15,5% daquelas com eczema reportaram ideação suicida comparados com 9,1% dos que não tinham o problema de pele. Quando a doença estava associada à coceira, a ideação suicida estava presente em 23,8% dos jovens.

O acompanhamento psicológico profissional é essencial nesses adolescentes para que eles entendam e consigam lidar com todos os seus problemas além da doença.

Tratamento para dermatite atópica

O tratamento para DA se dirige a duas frentes: recuperação da pele e terapia medicamentosa para conter crises. A primeira deve ser feita diariamente, com banhos em água morna para não ressecar ainda mais a pele, menos sabonete possível e aplicação de cremes hidratantes. É preciso também afastar fatores desencadeantes das crises.

Já a terapia medicamentoso consiste no uso de cremes com ação anti-inflamatória, com ou sem corticoide, dependendo do tipo de lesão pois são muito  eficientes em casos leves da dermatite atópica e podem ser insuficientes para níveis moderados e graves. Nesses últimos, o que se costuma usar são imunossupressores, que controlam a inflamação, mas diminuem muito a resposta imunológica.

Atualmente, existe um imunobiológico que age no centro da inflamação,  e reduz os efeitos colaterais ou adversos.

“Tem duas moléculas que regem toda inflamação, as IL-4 e IL-13. Esse anticorpo bloqueia essas moléculas, que também agem na barreira da pele. Quando bloqueia, a própria pele se recupera”. Esse medicamento, do princípio ativo dupilumabe, foi aprovado pela agência reguladora dos Estados Unidos em 2017 e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no ano passado. Recentemente, o órgão aprovou a extensão do uso para o tratamento de pacientes a partir de 12 anos com dermatite atópica moderada a grave.

“A aprovação também para adolescentes é mais um passo para a melhora da qualidade de vida desses pacientes que sofrem com essa doença e apresentam sintomas por vezes debilitantes, como as erupções cutâneas e a coceira crônica”.

Escrito por Dr.ª Cynthia de Souza Meyrelles