É curioso como cada um sente o passar do tempo e como a tecnologia colabora consideravelmente para a aceleração de tudo. Não só o tempo parece acelerado, mas a forma como se recebe e absorve informações também sofreu uma grande transformação. Toda esta aceleração aliada à quantidade e à qualidade das informações acabam compondo o cenário perfeito para algo muito atual que merece um olhar atento: a desinformação.
Segundo Enrique Muriel-Torrado, pesquisador, bibliotecário e professor no Departamento de Ciência da Informação do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na área da Ciência da Informação, a “desinformação é a informação falsa e deliberadamente criada para prejudicar uma pessoa, um grupo social, uma organização ou um país”. A partir desta definição, a reflexão a respeito do que é veiculado como verdadeiro é primordial e a partir deste ponto, no qual a desconfiança vem antes da confiança, saber verificar as fontes de informação passa a ser fundamental para que informações falsas não sejam disseminadas como reais, verdadeiras e seguras. Ainda segundo Enrique Muriel-Torrado, existem mais dois conceitos que se diferenciam da desinformação. São eles: a má informação e a informação incorreta. A má informação é aquela baseada na realidade, mas usada para causar danos a uma pessoa, organização ou país e a informação incorreta é uma informação falsa, porém sem ser criada com a intenção de causar algum dano.
Verificar as fontes de informação não é uma prática simples, muito menos aplicada por todos. Na maioria das vezes, as pessoas acreditam no que ouvem ou no que leem sem questionar. Não há como negar que a desinformação está de braços dados com as Fake News, que são notícias falsas publicadas por veículos de comunicação como se fossem informações reais, e que elas têm o potencial de se espalhar de maneira avassaladora. Tudo isto é bem evidente na realidade das redes sociais e dos aplicativos de mensagens instantâneas como o Facebook, o Instagram e o Whatsapp, por exemplo. Estas redes produzem tanta informação que parecem não ter mais fim. Além disto, têm a capacidade de influenciar de maneira intensa o comportamento dos seus usuários, tanto é que existe a profissão de influenciador digital, já que a atuação destes profissionais se dá no ambiente digital. Como estas redes são alimentadas de informações de forma muito intensa e veloz, aumenta a dificuldade em saber o que é verdade e o que não é. O comportamento de reproduzir algo sem veracidade mostra a ausência de uma análise crítica do que está sendo lido e compartilhado. Fatores que podem ser utilizados para justificar esta realidade são a intensidade do fluxo de informação e a falta de cuidado e atenção à leitura.
Vale também a reflexão a respeito de formas mais sutis de desinformação, porém muito presentes nas vidas das pessoas. Um destes exemplos é quando se busca um filme de forma “aleatória” num streaming como a Netflix. Além de existir um recorte para cada usuário a partir dos filmes, documentários e séries que cada usuário assiste, caso se queira achar algo novo procurando pelas opções que aparecem, parece uma busca sem fim. Os aplicativos de filmes e séries seguem a mesma linha, dificultando a recuperação do que os usuários desejam. O uso da internet, dos sites de busca e das redes sociais é feito de forma individual. No meio digital, existem algoritmos que recuperam a informação e a fazem aparecer para cada usuário de acordo com seus gostos, curtidas e interação. Os streamings de música como o Spotfy e o Deezer também recuperam músicas de acordo com o gosto do usuário. Por exemplo, se uma lista previamente feita pelo usuário termina, o próprio Spotfy ou Deezer continua tocando músicas altamente relacionadas às preferências do usuário.
Mais uma vez a aceleração do tempo e da forma que se vive se traduz em uma produção informacional extremamente intensa. O ambiente digital reflete este fato porque a sua dinâmica é exatamente esta: muito conteúdo, muita interação e, se não houver muito cuidado e um pensamento crítico desenvolvido por parte dos usuários ao produzir, consumir e compartilhar as informações, o resultado é um mar de desinformação, além de um condicionamento e interação de forma automática. A parte ética também deve ser pensada nesta dinâmica de produção, consumo e compartilhamento de informações. Aliás, a ética sempre deve ser lembrada!
A discussão é longa a respeito do uso da informação. Vale sempre lembrar que a falta de atenção e cuidado ao lidar com a informação traz consequências muito sérias, por vezes desastrosas para a realidade fora do universo digital, bem como para a construção da sociedade e do conhecimento.