por AMNI | 5 de dezembro de 2020 | Cardiologia, Notícias
Apresentado no Congresso virtual da Sociedade Européia de Cardiologia, o Estudo EAST- AFNET-4 comparou duas estratégias de tratamento na fibrilação atrial recente (menos de um ano de início da arritmia). A primeira seria a reversão da fibrilação atrial ao ritmo sinusal (cardioversão química ou elétrica, ablação). Na segunda, apenas o controle da frequência. Sendo mantido o padrão arrítmico nos dois braços, haveria o uso de anticoagulação.
No estudo, foram incluídos quase 3.000 pacientes de onze países europeus de maneira randomizada, porém o estudo foi aberto e a média de acompanhamento dos pacientes foi de cinco anos. Estes eram maiores de 75 anos, ou com AVC prévio ou com dois critérios a seguir: idade acima de 65 anos, mulher, diabetes, insuficiência renal estágio 3 ou 4, insuficiência cardíaca, hipertensão arterial e coronariopatia.
O objetivo primário do EAST- AFNET-4 era composto, definido como morte cardiovascular, AVC isquêmico ou hemorrágico, internação por IC ou DAC e a taxa de dias internados. O objetivo secundário foi avaliação de qualidade de vida e cognição.
Os resultados do estudo mostraram redução relativa de vinte por cento de eventos, no grupo “reversão ao ritmo sinusal” em relação aos pacientes do grupo com “controle da frequência”.
A segurança e os objetivos secundários foram semelhantes nos dois grupos. Desta forma, tal estudo nos mostra que reverter precocemente o ritmo dos pacientes recém-diagnosticados é a melhor estratégia para evitar complicações cardiovasculares futuras. Lembro que com relação aos estudos passados o EAST- AFNET – 4 contempla técnicas mais modernas e refinadas de ablação por radiofrequência, e parece reduzir os riscos secundários à doença.
Referência bibliográfica:
por AMNI | 24 de novembro de 2020 | Cardiologia, Notícias
O estudo brasileiro Brace Corona foi um dos grandes destaques do último dia do Congresso Europeu de Cardiologia realizado de forma virtual em setembro deste ano.
Liderado pelo Professor Renato Lopes, pesquisador brasileiro da Universidade de Duke (EUA), o trabalho avaliou o impacto da descontinuação dos inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA) e dos bloqueadores do receptor de angiotensina II (BRA), nos resultados clínicos de pacientes hospitalizados por COVID-19 em suas apresentações leve e moderada.
Este foi um estudo clínico randomizado, multicêntrico, elaborado para responder à pergunta sobre se havia a possibilidade de evolução com desfechos de maior gravidade em pacientes que utilizavam medicamentos inibidores do SRAA e que tivessem sido internados com infecção pelo SARS-COv-2, já que o vírus utiliza-se do receptor de angiotensina 2, R-AG2, localizado principalmente na membrana plasmática do pneumócito para adentrar essa célula, o que gerou hipóteses que defenderam ser este fato um possível malefício para a evolução destes pacientes e que os mesmos deveriam ter estes medicamentos descontinuados, assim como de hipóteses contrárias de potencial benefício, devendo então ser mantidas.
Desta forma, a equipe do estudo Brace Corona avaliou 659 pacientes em 29 hospitais brasileiros, internados com o quadro de COVID-19. O estudo possuiu dois braços: um grupo suspendeu o tratamento com IECA ou BRA por trinta dias. O outro grupo manteve sem alterações o uso do IECA /BRA.
Durante o período de internação não houve diferença estatística significativa entre os dois grupos em relação à mortalidade, que foi de 2,8% para o grupo “suspensão”, e 2,7% para o grupo “manutenção”.
Adicionalmente, foi observado que, dentre os pacientes que receberam alta hospitalar ao fim dos trinta dias, aqueles que continuaram com o tratamento de inibição do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) apresentavam um estado clínico melhor.
Os IECA/BRA são importantes no tratamento da hipertensão arterial e insuficiência cardíaca e, segundo o referido estudo, que pela sua robustez e metodologia demonstrou que não houve diferença estatística nos desfechos clínicos entre as duas estratégias – descontinuação ou manutenção dos medicamentos que inibem o SRAA – pode-se concluir que não devemos suspender rotineiramente tais fármacos, nos casos de pacientes acometidos de quadros leves e moderados de COVID-19.
Referência bibliográfica:
Lopes RD, Macedo AVS, de Barros E Silva PGM, et al. Continuing versus suspending angiotensinconverting enzyme inhibitors and angiotensin receptor blockers: Impact on adverse outcomes in hospitalized patients with severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 (SARS-CoV-2)–The BRACE CORONA Trial. Am Heart J. 2020;226:49-59. doi:10.1016/j.ahj.2020.05.002